SPOILERS: Esse texto contém spoilers das duas temporadas de Cobra Kai. Leia por sua conta e risco.
Confesso que quando Cobra Kai estreou minha primeira reação
era de curiosidade, mas não a ponto de buscar assistir a série o mais rápido
possível. Tudo porque Karatê Kid 1, o filme da franquia estrelada por Ralph
Macchio que esta produção dá continuidade, nunca esteve entre os meus
preferidos dos anos 80. De todos os grandes sucessos dessa década, esse é um
dos poucos que não senti vontade de rever mesmo que algumas cenas e outros
elementos relacionados, como a música Glory of Love do Peter Cetera, estivessem
grudados na memória. Apesar disso, dei uma chance para a série e não me
arrependi.
Um dos principais motivos
que me levam a fazer essa afirmação é a variedade de temas que Cobra Kai
aborda, seja direta ou indiretamente. Não só isso como a série também empolga
em alguns momentos com um roteiro que prende a atenção e te faz maratonar uma
temporada em tempo recorde. Mesmo não tendo sido o meu caso dessa vez, entendo
perfeitamente quem tenha feito isso.
Bom, agora que coloquei
todos os pingos nos "is" vou deixar claro qual o meu objetivo com
esse texto. De forma descompromissada, pretendo analisar os temas que Cobra Kai
aborda e discutir um pouco eles em alguns tópicos.
Resgate
nostálgico
Produções que resgatam sucessos
dos anos 80 hoje em dia não são nenhuma novidade. Algumas fazem sucesso
enquanto outras, apesar de bem-intencionadas, ficam no meio do caminho por
vários motivos. No caso de Cobra Kai, o resultado é bem-sucedido quando a série
utiliza cenas do primeiro filme e faz uma relação com o que está sendo mostrado
na série. E isso acontece seja através de homenagens, referências e até mesmo
breves citações. Destaque para trilha sonora com várias músicas que certamente
figuram na playlist de quem ainda vive esse período do tempo através delas.
Fonte: DCI |
Johnny
Lawrence, um homem fora de seu tempo
Anos atrás escrevi um texto
sobre estranhamento com a tecnologia no qual usava como exemplo a figura do
Capitão América. Hoje em dia se fosse falar sobre isso provavelmente teria o
protagonista de Cobra Kai como novo ponto de partida para abordar o tema. Desde
o começo quando somos apresentados ao personagem de William Zabka descobrimos
que se trata de um homem amargurado e marcado pela derrota no Torneio de Karatê
de Karatê Kid 1. Na primeira temporada, há uma sequência que deixa isso claro
ao resgatar o momento da derrota dele. Ela termina com ele no chão, derrotado,
e corta para os tempos atuais com Johnny dormindo de forma desleixada
praticamente na mesma posição. Em outras palavras, é como se independente do
tempo a sua derrota estivesse ali mantendo-o no chão sem vislumbre de algo
melhor.
Talvez por esse mesmo motivo
é que seja fácil entender a sua relação (ou falta dela) com a tecnologia.
Apesar de ser mostrada de forma cômica, a sua falta de conhecimentos quando o
assunto é notebook, aplicativos, redes sociais, wi-fi é totalmente
compreensível. Afinal, para ele, manter-se como um cara dos anos 80 é motivo de
orgulho e também, porque não, uma zona de conforto.
O
desenvolvimento dos personagens
Vamos ser sinceros. Na
grande maioria das produções dos anos 80, como Karatê Kid, a construção de
personagens é objetiva e ao mesmo tempo rasa. Sabemos o suficiente sobre eles e
ficamos com várias lacunas sobre o background deles. Na história do filme,
Daniel Larusso é o mocinho. Um garoto que veio de outra cidade, se apaixona
pela namorada do valentão do colégio e sofre com a violência dele e de seus
capangas. Johnny Lawrence, o valentão e vilão (adjetivos que até rimam, mesmo
de forma não intencional) da vida do mocinho. Na série, isso vai além ao mesmo
tempo que respeita essa base. Os dois continuam sendo antagonistas um do outro,
mas também tem suas histórias pessoais melhor desenvolvidas. Entendemos melhor
o lado do Johnny, mesmo que não concordemos com algumas coisas. Em certos
momentos, até torcemos por ele pois sabemos que no fundo ainda há um bom
coração ali.
De forma técnica, a produção
de Cobra Kai soube mostrar bem como é diferente a vida de ambos. Enquanto nas
cenas na casa de Daniel temos planos mais coloridos e abertos o mesmo não
ocorre com Johnny. Sua vida é mostrada através de planos mais fechados, sem
muita luz ou cor. Curiosamente, quando ele está construindo o seu negócio isso
muda.
Bullying
e a inversão de papeis
Engana-se quem pensa que
Cobra Kai se restringe ao saudosismo e ao desenvolvimento de personagens. Com a
apresentação de personagens novos e jovens, a série aborda temas que hoje em
dia são mais discutidos e não apenas pano de fundo para filmes dos anos 80.
Nesse sentido, Miguel Diaz (Xolo Maridueña) e Falcão (Jacob Bertrand) acabam
representando diferentes facetas de quem sofreu
bullying e agora tem como pagar na mesma moeda. Enquanto um utiliza os
ensinamentos para se defender e atacar seus opressores o outro se torna um
valentão de forma praticamente instantânea. É como se tivesse obtido um grande
poder que não traz consigo nenhuma responsabilidade. Na verdade, vai muito além
disso. Miguel também se torna uma espécie de valentão, mas com a diferença de ainda
ter um caminho de redenção. Já seu amigo Falcão, por outro lado, parece ser o
que podemos chamar de fruto do ódio acumulado.
Karate
Kid 4, mulheres e...Doctor Who?
Em um dado momento da
segunda temporada, Falcão baixa a guarda e se permite conversar rapidamente com
seu ex-amigo Demetri (Gianni Decenzo) que lhe conta sobre as mudanças recentes
e significativas em Doctor Who. Para quem não conhece a série britânica da BBC,
fica aqui uma rápida explicação sobre o protagonista. O personagem pertence a
raça dos timelords (Senhores do Tempo) e atende pelo nome de O Doutor. Toda vez
que está prestes a morrer, seu corpo se regenera. Ele troca não só de rosto
como de personalidade também. Recentemente, O Doutor passou pela sua 13º
regeneração que agora é uma mulher (Jodie Whittaker).
Bom, na cena em questão
Demetri comenta sobre a mudança alguns segundos antes de O Falcão ver seu
ex-namorada beijando outra garota. Nesse mesmo episódio, a rivalidade entre
Samantha LaRusso (Mary Mouser) e Tory Nichols (Peyton List) fica mais acirrada
como um prenúncio do que estaria por vir no final da temporada.
Pensando nisso, não há como
esquecer de que a franquia Karatê Kid já teve em seu quarto filme uma
protagonista, Julie Pierce (Hilary Swank), que assim como Daniel-san aprendeu Karatê
com o Sr. Myagi. Fica a expectativa para que em uma terceira temporada seu
personagem retorne de alguma forma ou haja alguma referência mais clara a ela,
algo que seria muito interessante e bem-vindo para uma série com poucas
personagens femininas.
Encerrando...
Esse foi o meu olhar sobre
os temas abordados em Cobra Kai, uma série que com certeza foi um prazer ter
conhecido. Gostei como a produção respeita suas origens, acrescenta camadas à
franquia e ainda expande seu universo através do elenco novo. Por último,
recomendo no final do post alguns conteúdos relacionados (entre outras coisas
também) que, por sua vez, trazem uma nova abordagem sobre as duas temporadas.
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